Eu precisava me preparar para contar a experiência deste natal, que se prolongou até hoje, quando eu terminei de conhecer o menino Zezé. Eric me indicou o livo Meu pé de laraja lima e o diálogo foi mais ou menos o seguinte:
– Você tem que ler aquele livro!
– Como podes gostar de um livro tão pequeno desse jeito? Pode até ser bom, mas não dá pra ser esse desespero todo.
– Ele é maravilhoso, eu chorei copiosamente e não conseguia parar, o livro é muito emocionante!
– Isso é tudo frescura tua, que tem mania de chorar com tudo!
Só que eu esqueci de um pequeno detalhe: eu sou mais besta pra chorar do que Eric. Então comecei a ler o livro na mesma semana que ele me indicou (isso já faz mais de um ano). E eu chorei copiosamente. Não consegui ler mais nada porque a história de Zezé doeu muito em mim. E se passara o que? Cinco capítulos, no máximo!
Zezé é um menino de cinco anos, que tem uma família muito, muito pobre. E, pra piorar, cheia de irmãos! O pai está desempregado e, por isso, a mãe se mata de trabalhar como operária em uma fábrica da redondeza. A emoção e a tristeza do livro não estão no sofrimento da família de Zezé, mas na maneira como ele encara tudo aquilo. Podemos ver, nitidamente, a inocência virando maturidade.
Zezé cria fantasias, como toda criança. E passa a conversar com o pé de laranja lima e começa a fazer de conta. E o maior faz de conta de todos é ele imaginar que aquela árvore fala com ele. E os dois – criança e árvore – tornam-se amigos e confidentes enquanto a história do menino se desenrola de maneira paralela: parte na fantasia, parte na realidade.
Tentei ler de novo o livro, mas a história do natal de uma criança pobre que vive em um ambiente hostil é triste demais! Então prometi pra mim mesma que Zezé seria digno da leitura completa, terminei agorinha. Eu me identifiquei tanto… Nunca fui pobre a ponto de não ter presentes no natal, nunca vivi em um ambiente hostil pra não me sentir querida, mas diversas vezes fui injusta com quem amo e possivelmente já estraguei o natal ou o dia de alguém. Zezé acha que ele foi um menino mau porque não ganhou presente do Papai Noel. Já eu acho que esse bom velhinho é muito injusto.
Recomendo o livro, especialmente agora, depois do natal. É bom comparar e olhar pra o lado, ver como somos sortudos. Como fomos preservados e aprendemos na hora certa o que é brincar de esconde-esconde e o que é sofrer.
Nesse momento, eu queria dizer pra Zezé o quanto ele se tornou especial pra mim. Queria abraçá-lo e ouvir as suas histórias todas, dizer que, quando eu crescer, quero ter um filho igual a ele. Esse privilégio ficou com o meu querido Eric bem aqui.
Neide Andrade